Chandler Tiago S. Sant’ Ana
A carta do Rabi Shaul a Kehilá
de Éfeso é altamente importante no estudo da unidade; aparentemente Shaul
não escreve essa carta para os seguidores de Yeshua em Éfeso por conta de divisões.
Esta carta está dividida em duas partes a primeira 1.1 – 3.21; a segunda de 4.1
– 6.24. Na primeira parte o Rabi trata da Kehilá como a comunidade dos
redimidos, isto é, aqueles que foram salvos por Yeshua. Dentro desta primeira
divisão existem três subdivisões a primeira de 1. 3 – 14 Shaul fala sobre como
mediante Yeshua o Eterno aproximou e redimiu os membros da Kehilá; ao Shaul
discorrer sobre o propósito de HaShem de salvar por meio de Yeshua ele destaca
que estes que foram salvos receberam o Ruah HaKodsh e Ele os selou; destaca o
Rabi ainda que o Ruah é o penhor dos remidos (Ef 1. 13 – 14). O Ruah é a
garantia da redenção futura (Ef 4. 30). É mediante o Ruah HaKodsh que o Eterno
opera e transforma os seguidores de Yeshua; é por meio dEle que a Kehilá é
transformada; Ele implanta o amor nos corações e por meio dEle Yeshua habita
nos seus seguidores (Ef 3. 16).
O Rabi Shaul deu ao texto a mesma forma de uma
Brakhah ao dividir de 1. 1 – 14 em quatro parágrafos. Ele começa com “Bendito o
D’us e Pai...” formula essa que abre a Amidá “Bendito sejas Tu, Eterno”; a
também uma diferença pois Shaul menciona Yeshua HaMashiach quando na Amidá se
cita os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó. Shaul aí menciona o Mashiach
provavelmente por que está falando da remição dos membros da Kehilá; assim faz
todo sentido tomar a forma da Brakhah e fazer adaptação para o contexto. Nos dito
no verso 4: “nos escolheu em amor” que se assemelha ao encerramento da bênção
de Ahavah imediatamente antes de se recitar o Shema: “Louvado seja você,
Adonai, que escolheu seu povo Israel em amor”; e, em toda a sua sabedoria e
discernimento Ele nos deu a conhecer (vv. 8–9), que relembra a quarta bênção do
Amidá:
Você favorece a humanidade com conhecimento e ensina a
compreensão das pessoas. Nos favoreça com conhecimento, compreensão e percepção
de si mesmo. Louvado seja você, Adonai, doador gracioso de conhecimento (STERN,
1996).
O rabi continua sua segunda subseção (1, 15 –
2.10; 3. 14 – 21) salientando aos remidos que todos fazem parte de Israel
(2.12). Para o Rabi Shaul tanto gentios quanto Yahudim seguidores do Mashiach
faziam parte do mesmo corpo (3. 5 – 6); o Eteno não tinha e não tem um plano
para os Yahudim e outro para os gentios. Quando ambos aceitam Yeshua como
Mashiach formam o “Kol Yisra’el, Todo Israel”. Mosheh destaca que o Kol Yisra’el
é formado por Yahudim e gentios que fazem aliança com o Eterno (Êx 29). O Rabi
Shaul muito bem fala disso quando destaca que existe uma oliveira e esta é
Ysrael e que os gentios foram enxertados nela formando o Kol Yisra’el (Rm 11);
Shaul também chama os seguidores de Yeshua da Kehilá da Galácia de “Yisra’el de
D’us” (Gl 6.16). A Kehilá da Galácia era composta por Yahudim e gentios; o
leitor atento percebe que Shaul bem como Mosheh estão colocando Yahudim e
gentios no mesmo plano.
Shaul fala de uma parede de separação que trazia
divisão e inimizade; Yeshua acabou com a inimizade no madeiro (Ef 2. 14 – 15). Naquele tempo havia uma inscrição na parede
interior do templo proibindo a entrada de gentios sobe pena de morte (JOSEPHUS,
1996, 5.192-197); esta era a parede de separação que Yeshua derrubou pois por
meio dEle todos poderiam ir a HaShem. Quando Shaul fala no verso 15 que Yeshua
aboliu os mandamentos é preciso entender bem o que ele aí quer dizer;
S. M. Baugh (2015, p. 192 – 193)
sugere que esses mandamentos particulares estavam ligados à teocracia de Ysrael
e faziam parte dessa legislação tipológica de pureza que levou D’us a ordenar a
Ysrael que exterminasse a Torá, entretanto essa não parece ser uma sugestão
adequada. No madeiro Yeshua não acabou com a Torá, mas com as más
interpretações que causavam divisão “τὸν
νόμον τῶν
ἐντολῶν
ἐν δόγμασιν καταργήσας, ton nomon tōn entolōn en dogmasin katargēsas, “invalidando
a lei dos mandamentos nos seus dogmas”. O termo “dogma, δόγμασιν” aparece seis
vezes na Septuaginta (LXX); sendo uma em Daniel 6. 12 e outras em 3 Macabeus 1.
3; 4 Macabeus 4. 23 – 24, 26; 10. 2 e uma vez no Didaquê 11. 3 em todos esses
casos se referindo a decretos ou doutrinas e nunca a Torá. Na B’rit Hadashah
aparece outras quatro vezes e nenhuma se referindo a Torá (Lc 2.1; At 16. 4;
17. 7; Cl 2.14). Na época de Shaul o termo não era usado em relação a Torá e
isso diz muito. O contexto é de inimizade e é, razoável sugerir que esses
dogmas se referem as interpretações da Torá que faziam separação; e decretos
como no caso do muro de separação do verso 14. A Torá nunca foi vista nos
documentos bíblicos como algo ruim que gerava desunião. E isso fica evidente na
síntese da Torá feita por Hilel: “não faças a outros o que não
queres que te façam. Está é toda a Torá, o resto é comentário” (T. B. Shabbat
31ª). Assim Yeshua derrubou esses dogmas
ou decretos para que o povo tivesse paz, ou seja, tivessem unidade entre si e
com HaShem (WHITE, 2006, p. 19).
Na última parte dessa subseção
(2. 11 – 3. 13) o Rabi Shaul demonstra que HaShem agiu por meio de Yeshua para
que tanto Yahudim quanto gentios fossem abençoados e participassem das mesmas
promessas (3. 1 – 7). O Rabi termina essa subseção falando do desejo que tinha
para a Kehilá e pelo qual orava e esse era de velos tomados de “toda plenitude
de D’us” (3. 19).
Após o Rabi ter na
primeira parte ter falado de tudo que o Eterno fez por meio de Yeshua pela
comunidade dos remidos ele dá início a segunda parte (4. 1 – 6. 24) da carta
falando da unidade que deveriam ter. Shaul lembra a comunidade de como deveria
ser o trato de uns para com outros; este envolve reconhecer o chamado que cada
um recebeu para partilhar da mesma fé e esperança. Os seguidores de Yeshua
foram chamados numa mesma fé e esperança; ainda que alguns tenham dons
diferentes e trabalhem em áreas diferentes na obra de HaShem todos devem
trabalhar por um propósito: a unidade da kehilá. Ninguém tem o direito de
atrapalhar o crescimento harmonioso da kehilá; esta deve alcançar a “plenitude
de Yeshua” pois ele é o cabeça da kehilá (4. 1 – 16).
Na segunda subseção
desta parte Shaul fala aos seguidores de Yeshua sobre ações que trazem divisão
para kehilá (4. 17 – 5. 20). Existem comportamentos que ameaçam o
desenvolvimento da kehilá; não é possível manter a unidade vivendo como
gentios. Se na subseção anterior o Rabi demonstrou a forma correta de se
proceder na kehilá nesta ele observa como não se deve viver. Shaul exorta os
membros da kehilá a despincem do velho homem (4. 22); esta provavelmente é uma
boa síntese dessa subseção. Shaul da o mesmo conselho para kehilá em Colossos
(3. 1 – 25) quando faz uma lista de atos do velho homem que deveriam ser
abandonados. Todos os atos mencionados por Shaul, cobiça, mentira, ignorância conversação
torpe etc., são uma ameaça a unidade da kehilá.
Na última subseção o
Rabi faz diversas observações sobre a batalhe espiritual que existe e como cada
membro da kehilá deve agir ante ela. Shaul fala do respeito dos pais para com
os filhos e dos filhos para com os pais; do relacionamento entre servo e
senhor. Esses conselhos além de preservar a integridade e a união também atraem
glória para HaShem; em tudo os seguidores do Mashiach devem atrair glória para
o Eterno (5. 21 – 6.24).
A carta do Rabi Shaul a
kehilá em Éfeso contém todos esses conselhos que chegam até os seguidores de
Yeshua atuais; como cada um irá agir ate esses concelhos é uma escolha
individual. O certo é que aquele que os retém e os vive atrai a glória para o
Eterno e é, significante para unidade da kehilá.
Referências
Baugh, M. S. Ephesians: Evangelical Exegetical
Commentary. Bellingham, WA: Lexham Press, 2015.
Brannan, R. Apostolic Fathers Greek-English Interlinear.
Lexham Press, 2011.
Stern, D. H. Jewish New Testament Commentary: A
companion volume to the Jewish New Testament. Clarksville: Jewish New Testament
Publication, 1996.
White,
G. E. Atos dos Apóstolos. Tatuí, SP:
Casa Publicadora Brasileira, 2006.