O Processo de Compra e Venda de Propriedades nos Tempos Bíblicos: Um Estudo Histórico-Cultural de Gênesis 23.10-18



INTRODUÇÃO
O presente estudo tem o objetivo explicar o processo de compra e venda de propriedades no Antigo Oriente Próximo, contexto em que a Bíblia Hebraica foi escrita. O primeiro texto Bíblico a mencionar esse processo é Gênesis 23. 10, 18; iremos exibir um breve estudo de seu contexto para compreendermos como era feito o processo e onde era feito.

CONTEXTO HISTÓRICO – CULTURAL

Em Gênesis 23. 1 – 20 encontra – se o interessante relato da negociação de Abraão com os Hititas, um povo semita listado entre os filhos de Canaã (BRIGGS, 1977, pp. 366–367). O patriarca manifestou o desejo de adquirir uma sepultura para sua falecida esposa em Hebrom que fica na região montanhosa da Judéia, a meio caminho entre Jerusalém e Berseba. A prática funerária da época de Abraão era de cavar túmulos em rochas ou cavernas, destinados a acomodar o clã através de gerações. Os corpos estariam dispostos em prateleiras de pedra até que nada restasse, exceto os ossos, momento em que os ossos eram despejados na parte de trás da tumba ou transferidos para um recipiente de algum tipo para dar espaço à outro corpo. Os antepassados eram homenageados por uma variedade de práticas que não parava após o enterro. Essas práticas tornavam necessário que os túmulos estivessem próximos de assentamentos um tanto permanentes (WALTON, 2001, p. 807; 2009, pp. 345 – 346; THOMPSON, 2009, p. 40).
Nos voltaremos nesse momento para prática antiga de compra e venda de propriedades. O leitor brasileiro está familiarizado com o processo de compra e venda de seu país e todos os tramites legais em cartórios. No mundo antigo também havia o processo, porém com uma forma diferente. Nosso texto diz que Abraão estava na “porta da cidade” quando negociava a compra do campo com os Hititas (Gn 23. 10). O leitor também é informado que o negócio foi fechado na “porta da cidade” (Gn 23. 18, 20).
A expressão “שַֽׁעַר־עִיר֖וֹ, sha‘ar – ‘iyro, porta da cidade” é chave para compreender o processo de compra e venda no mundo antigo. No Antigo Oriente Próximo os juízes e sábios ficavam na “porta da cidade” pois ali eram feitas as negociações e seu processo judicial de acordo com o contexto da época. A Torá apresenta tal prática como parte da legislação Mosaica (Dt 17. 5; 21. 19; 22. 15, 24; 21. 21. 19; 22. 15; 25. 7). Tal realidade foi tomada do contexto cultural do Antigo Oriente Próximo visto que já existia nos tempos de Abraão. Essa prática perdurou por certo tempo pois no período dos juízes a compra do terreno de Noemi e regate de Rute acontecem nestes moldes e mais tarde Eli era juiz na entrada da cidade (Rt 4. 1 – 12; 1 Sm 4. 12 – 18) (WALTON, et al., 2018, p. 66, 263; CHISHOLM, 2017, p. 28). Assim o contexto indica que as partes interessadas na negociação se colocavam na presença dos juízes na “porta da cidade” e ali mesmo acontecia todo o processo legal.
O achado arqueológico da cidade de Gezer mencionada em 1 Reis 9. 15 pode contribuir para a compreensão. A foto abaixo exibe a imagem da “porta da cidade” com seis camarás. É razoável sugerir que os procedimentos mencionados acima aconteciam neste local na cidade de Gezer (RICHELLE, 2017, pp. 36 – 39).
Roland de Vaux (2004, pp. 186 – 187) explica que as questões legais das cidades eram discutidas nas “portas das cidades” pelos anciãos. Para de Vaux quando os profetas exigiam respeito pela justiça “na porta” eles estavam se referindo a esses tribunais (Am 5. 10, 12, 15; Zc 8. 16).

APLICAÇÃO

Abraão como um servo de D-us andou de acordo com a lei estabelecida em sua época. Os servos do D-us de Israel na atualidade devem seguir o exemplo de Abraão e estarem em harmonia com os sistemas legais dos países onde habitam na medida em que esse não se opõe a verdades Bíblicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Abraão adquiriu a propriedade para sepultar sua falecida esposa de acordo com o sistema legal da época. O texto de Gênesis 23. 10, 18 exibe uma prática muito antiga de compra e venda de propriedades que tem intima relação com o contexto do Antigo Oriente e mais tarde essa forma legal foi adotada na Torá tornado – se parte do sistema mosaico. É necessário salientar que outros assuntos de cunho legal da comunidade também eram tratados no mesmo ambiente.
  


BIBLIOGRAFIA

BRIGGS, A. C. BRIVER, R. S. BROWN, F. Hebrew and English Lexicon. Oxford: Clarendon Press, 1977.

CHISHOLM JR, B. R. 1 e 2 Samuel. São Paulo: Vida Nova, 2017.

RICHELLE, M. A Bíblia e a Arqueologia. São Paulo: Vida Nova, 2017.

VAUX, R. Instituições de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2004.

THOMPSON, J. A. A Bíblia e Arqueologia: quando a ciência descobre a fé. São Paulo: Vida Cristã, 2009.

WALTON, H. J; MATTHEWS, H. V; CHAVALAS, W. M. Comentário Histórico – Cultural da Bíblia: Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2018.

____________. Genesis. Grand Rapids: Zondervan, 2009.

____________. The NIV Application Commentary: Genesis. Grand Rapids: Zondervan, 2001.


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